
Antigamente, o cientista era um cara que estudava a natureza como um todo, e não se contentava em ser taxado só como microbiologista ou só como físico teórico. Além disso, muitos cientistas eram também filósofos, e não faziam suas pesquisas com um livro de receitas aberto em seu colo, como muitos o fazem.
Hoje, com a ciência compartimentalizada em áreas e subáreas do conhecimento, muitos pesquisadores sentem falta de interdisciplinariedade em seus estudos e buscam teorias unificadoras. Uma dessas teorias, que tem ficado cada vez mais famosa e utilizada, é a teoria de redes. As redes são pontos conectados a outros pontos por meio de fios e... O que isso te a ver com ciência? Bem, os pontos com que trabalhamos podem ser espécies, genes, pessoas, empresas, moléculas etc etc etc... e os links são as interações entre esses pontos (como competição entre espécies e empresas, amizade ou parentesco entre as pessoas e assim por diante).
Foi pensando nisso (ou não) que dois pesquisadores ingleses, Andrew Haldane e Robert May, publicaram essa semana na Nature um artigo sobre como as interações biológicas na natureza podem ser comparadas às interações econômicas na nossa sociedade. O nome do artigo é Systematic risk in banking ecosystems, e nele os autores discutem que entender os sistemas biológicos pode ajudar a compreender o sistema financeiro e seus riscos.
Tanto os sistemas biológicos como os econômicos são complexos e, de preferência, devem permanecer estáveis. Se uma espécie for extinta, outras espécies podem sucumbir ou crescer em excesso, levando ao desequilíbrio ecológico; e se um banco falir, muitos outros podem fracassar devido a um efeito de cascata, levando à desordem econômica.
Isso tudo ocorre devido à maneira como os pontos da rede (espécies, bancos) estão ligados entre si (quantos pontos existem, por quais tipos de interações eles se relacionam, com quantos outros pontos cada um deles interage, etc). E para solucionar problemas ecológicos e financeiros, devemos mexer justamente na estrutura dessas redes complexas;lembrando sempre que tanto os sistemas ecológicos como os econômicos demoram um tempo para se adaptar a uma nova situação.